Manguezais são ecossistemas costeiros de transição da interface terra-mar de regiões tropicais e subtropicais, associados a eventos de transgressão marinha que tiveram o início de seu desenvolvimento há 5mil anos atrás. O manguezal recebe esse nome devido a sua vegetação dominante de mangue, tipo de vegetação halófita (tolerância ao sal) adaptada a viver em ambientes de planície de inundação de marés. Associado aos mangues é possível encontrar também outros vegetais e animais que encontram nessas árvores abrigo, proteção e alimento. O máximo de desenvolvimento deste tipo de ecossistema se dá em regiões com alto índice pluviométrico e grande amplitude de maré, e.g. região equatorial. Pela costa do Brasil, os manguezais se distribuem quase 26.000km² desde o Amapá até Santa Catarina.

Ditribuição dos manguezais ao redor do globo. Adaptado do Berteness, 2001.

O mangue se instala em áreas de sedimentos lamosos não consolidados, com pouca declividade, e em geral associados a baías, lagunas, estuários e deltas. O substrato do manguezal apesar de ser rico em matéria orgânico e nutriente, é hipersalino e hipóxico, com isso o mangue desenvolveu adaptações para esse ambiente; como as lenticelas que possibilitam trocas gasosas diretamente com o ar, raízes radiais e de suporte para dar sustentabilidade no sedimento lamoso, viviparidade para assegurar o sucesso reprodutivo e adaptações fisiológicas para suportar a grande variação de salinidade.

No Brasil, existem três espécies principais de mangue:

Rhizophora mangle ou mangue-vermelho – característica de solos lodosos, com raízes aéreas;

Laguncularia racemosa ou mangue-branco - encontrado em terrenos mais altos, de solo mais firme, associado a formações arenosas e

Avicennia schaueriana ou mangue-preto – assim como a Laguncularia possui raízes radiais só que com pneumatóforos (estruturas que auxiliam na troca gasosa) mais desenvolvidos e em maior número.

Rhizophora mangle em Cacha Pregos-Ba. Foto: Camilla Caricchio.

Essas espécies se distribuem em zonas distintas, da região mais alagada para a mais elevada, de acordo com a figura abaixo:

Esquema de zonação horizontal em manguezais. Adaptado de Schaeffer-Novelli, 2004.

A zona I ou zona externa sofre inundação frequente de marés, o sedimento é areno-lodoso com grande quantidade de matéria organica, nessa faixa se encontra predominantemete o mangue-vermelho.

A zona II ou zona interna é dominada pelas espécies de mangue-preto e mangue-branco com sedimento mais arenoso.

A zona III ou zona de apicum é atingida somente em marés com grande amplitude, como as de sizígia, o sedimento é arenoso e hipersalino, com isso é desprovida de vegetação.

A zona IV ou zona de transição é o limite entre o ecossistema de manguezal e o terrestre, a salinidade tende a zero, é um terreno mais alto que nao sofre inundação pela maré, com sedimento arenoso e a flora dominante é composta pelo mangue-de-botão, algodoeiro de mangue e avencão. Essa zona apresenta caracteristicas mistas entre o manguezal e o continente.

Ao contrário do que ocorre com os vegetais, a fauna de mangues não é exclusiva, sendo compostos por mamíferos, aves, peixes, crustáceos, e moluscos. Por conta do stress devido à força das marés, o ambiente de manguezal não apresenta grande diversidade, em contra partida tem uma alta produtividade primária, abundância e biomassa.

Raiz de mangue serve de substrato para diversos organismos como ostras, cracas, e moluscos. Foto: Camilla Caricchio

 

 

Os ambientes de manguezais são ecologicamente importantes pela sua grande exportação de matéria orgânica para zona costeira, e seu papel fundamental como berçário de diversas espécies locais como de outros habitats. Além de ser uma proteção contra a erosão costeira e estabilizar a linha de costa, o manguezal é uma fonte de renda e alimento para as comunidades que vivem em seu entorno, comprovando assim também seu papel social e econômico. Como reconhecimento pela sua importância em 1965 o Código Florestal definiu que regiões de manguezais são área de proteção permanente.

Apesar disso, os manguezais, assim como outros ambientes costeiros, estão sendo progressivamente destruídos. Esse ecossistema é conhecidamente um trapeador de contaminantes, devido aos processos de mistura de água doce e salgada e através de processos físico-químicos, os poluentes (metais pesados e orgânicos) são carreados para o sedimento ficando ali retidos. A poluição é um grande, porém não único, perigo ao qual esse ambiente está submetido. A urbanização nas proximidades, criação de portos, obras de dragagens, instalação de maricultura, dentre outras são atividades que destroem esse habitat. É necessário o uso sustentável desse ambiente para que ele possa exercer seu papel ecológico e continuar como fonte importante de recursos pesqueiros.

BERTNESS, M.D. et al. Marine Community Ecology. Sinauer Associates. 550p: 2001.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y et al. Manguezais. Ática, 1ed, São Paulo: 2004