Recifes biogênicos são estruturas de carbonato de cálcio que se formam a partir da bioconstrução por algas coralíneas e corais zooxantelados. Entretanto, pouco se fala dos recifes de algas coralíneas, os recifes de corais são o braço mais famoso desse importante ecossistema.

Este texto dará enfoque aos recifes de corais, mas é importante esclarecer que recifes de algas coralíneas coexistem com os recifes de corais e tem grande importância na manutenção dos recifes de corais e uma ecologia semelhante aos recifes de corais. Os recifes de algas coralíneas incrustantes,como a Porolithon e a Lithothamnion, crescem sobre as superfícies duras dos recifes; depositam quantidades de CaCO3 até maiores que os corais contribuindo para a construção dos recifes; tem uma resistência maior ao impacto de ondas na porção externa do recife criando um cinturão de proteção; e crescem em espaços vazios entre os corais diminuindo a taxa de sedimentação sobre os corais. Assim sendo, apesar da pouca visibilidade os recifes de corais tem grande importância ecológica.

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Exemplos de algas coralíneas. À esquerda Porolithon e direita Lithothamnion. Fonte: CoralReef e Afotos.

Recifes de corais são ambientes impares, que impressionam pelo seu colorido e vida, traduzidos em uma grande riqueza e abundância de espécies. Por serem o ambiente de maior produtividade do planeta (até 5000 g.C.m-2.a-1), os recifes de corais sustentam um complexo e delicado ecossistema marinho. Os corais construtores são cnidários que, em geral, fazem simbiose com zooxantelas (algas unicelulares).

Corais azooxantelados também tem capacidade de depositar CaCO3, mas o crescimento do recife se faz de maneira muito devagar tornando  quase inviável a manutenção e desenvolvimento de recifes

 

de corais azooxantelados, onde a taxa de bioerosão é maior que a de bioconstrução. As zooxantelas simbiontes auxiliam na deposição do carbonato de cálcio, sendo peça fundamental para a existência das estruturas recifais coralíneas.

Os recifes de corais estão distribuídos pelo mundo entre as isotermas (linha que liga pontos de mesma temperatura) de 20°C. As algas simbiontes são muito sensíveis a variações de temperatura e só sobrevivem em águas tropicais quentes, tendo seu máximo de crescimento entre 26-28°C. Sendo assim, os recifes de corais estão distribuídos em águas tropicais rasas e com grande penetrabilidade de luz para viabilizar a fotossíntese.  

Mapa de distribuição de recifes de corais no mundo. Fonte: José Maia.

Os pólipos de corais em conjunto com as zooxantelas ao depositarem carbonato de cálcio formam as estruturais recifais que oferecem um ambiente tridimensional no fundo marinho, assim os recifes servem de abrigo e local de alimentação de muitas espécies formando “oásis” submarinos devido à explosão de vida que ocorre nesses locais. Isso fica ainda mais evidente porque os corais se desenvolvem preferencialmente em águas oligotroficas (pobres em nutrientes) e por conta da simbiose com as zooxantelas conseguem sustentar um ambiente exuberante em águas pobres.

Existem três tipos básicos de recifes de corais:

 

·       RECIFES EM FRANJA: são os mais comuns e mais simples tipos de recifes. Se desenvolvem ao longo da linha de costa onde existe substrato duro para o assentamento das primeiras larvas colonizadoras de corais. Devido a proximidade com a costa, os recifes em barreira são os mais vulneráveis à impactos antrópicos, sedimentação e descarga fluvial.

 

Recife em Franja de Praia do Forte – Ba. Fonte: Projeto Tamar.

Grande Barreira da Austrália. Fonte: Skyscrapercity.

 

·       RECIFES BARREIRAS: são confundidos muitas vezes com recifes em franja, pois ambos apresentam uma morfologia alongada, entretanto, os recifes em barreira são estruturas que ficam mais afastadas da linha de costa. A maior e mais famosa barreira de recifes é sem duvida a Grande Barreira de Recifes da Austrália, com mais de 2.000 km de extensão e 225.000km², abriga uma infinidade de organismos marinhos em seu complexo de mais de 2500 pequenas ilhas, lagunas e canais.

·       RECIFES EM FORMA DE ATÓIS: são anéis que circundam lagoas centrais rasas, a maior parte dos atóis está no Oeste do Indo-Pacífico. No Brasil, o Atol das Rocas, situado a 144 milhas náuticas de Natal-RN, é o único recife desse tipo, formado por um anel semicircular com 7,2 km² de área.

 

Atol das Rocas – RN. Fonte: Maria Fillo

O Brasil apresenta dois grandes complexos recifais, Abrolhos na região sul da Bahia, e o Parcel de Manoel Luis na costa do Maranhão. O complexo recifal de Abrolhos tem uma morfologia e ecologia muito próprias. Sua estrutura de chapeirão, formado por pináculos coralíneos com forma de cogumelo, é pouco encontrada ao redor do mundo. Existe um alto grau de endemismo e a diversidade local é bastante arcaica, diferindo dos corais caribenhos.

Os corais são animais muito sensíveis a variações ambientais e em todo o mundo já é possivel notar os efeitos negativos sobre esses ecossistemas. A maior ameaça para esses organismos são as mudanças climáticas, por diversos fatores como: as zooxantelas não suportam variações de temperatura e ao sentirem o strees abandonam a proteção dos corais e então ocorre o branqueamento que pode levar os corais à morte, a acidificação devido ao aumento da dissolução de CO2 nos oceanos dificulta a deposição de CaCO3 pondo em risco os recifes. Outros impactos antrópicos também vêm influenciando negativamente esses ambientes: assoreamento devido à obras de dragagens, descargas de efluentes, poluição orgânica e inorgânica são exemplos, assim como as técnicas de pesca destrutivas sobre os corais, como redes de arrasto ou pesca de peixes ornamentais com produtos químicos que destroem esses habitats únicos e diversos.

BARROS, F. Notas de aulas de Bentologia. Universidade Federal da Bahia: 2009.


FALCÃO, O. Notas de aulas de Oceanografia Biológica. Universidade Federal da Bahia: 2009.


LEÃO,Z.M.A.N. Abrolhos, BA - O complexo recifal mais extenso do Atlântico Sul.
In:

Schobbenhaus,C.; Campos,D.A. ; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M.L.C. (Edits.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. 1. ed. Brasilia: DNPM/CPRM - Comissão Brasileira de SítiosGeológicos e Paleobiológicos (SIGEP), v.01: 345-359: 2002.